19 de abril de 2011

Pele

É uma questão de desconforto. Aqueles dias que se prolongam e se colam uns aos outros de tão parecidos. Em que me sinto uma estranha em mim mesma, como se a minha pele fosse um fato de lycra colado ao corpo. Incómodo, deslocado, limitativo. Não sei como nem porquê, é uma coisa que acorda comigo numa manhã e fica agarrada nos dias seguintes.
Nestas alturas sinto que devíamos ser como as cobras, que se libertam da pele antiga e de todas as energias coladas a ela, que a substituem, renovando-se a si próprias; uma pele sem marcas e sem mágoas.
Como se a pele tivesse direito a um novo começo. Clean slate. O que me parece adequado. A minha pele conta a minha história: é a primeira testemunha das marcas do tempo. Arrepia-se quando é tocada de determinada forma. Sangra quando é ferida. Muda de tom quando mudam as estações. É o meu contacto mais directo com o mundo que me rodeia. Faz sentido que, quando uma mudança se avizinha, a minha pele se ressinta e me faça sentir subitamente que já não o é. Como se eu tivesse de repente crescido e ela já não tem capacidade de me acompanhar. Como se já não me servisse.
Por isso, os dias que precedem esta sensação costumam ser transportadores de mudança. Alteração de vida e de estado de coisas. Sinto-me ansiosa, a minha alma ressente-se e transforma-se numa praia antes da tempestade; as cores mudam, sente-se a electricidade no ar, as águas revolvem e a areia alisa-se com a força do vento. E a minha pele tem muita dificuldade em acompanhar.