29 de março de 2011

   Nunca dei por mim tão pé ante pé. Tão assustadiça. Tão metida comigo própria, com medo que abram uma fresta nesta defesa que construí.
   Tenho dificuldade em compreender se isto é que é ser adulta, ou se é pura cobardia. Olhar para o chão e ver onde é que vou pôr os pés. Proteger-me das pedras no caminho, evitar tudo o que me possa ferir.Nunca dei por mim tão consciente de mim mesma. Tão perfeitamente clara das minhas inseguranças e dos meus pontos fracos.
   E não sei se tenho saudades da menina que abria os braços e se deixava ir de costas, com a segurança de que estava alguém atrás de mim que me segurava antes de bater no chão. Tão pouco consciente da minha própria exposição que ia em frente e levava tudo comigo, sem pensar duas vezes onde é que estava a ir. 
   Mas não quero ser a mulher amarga que não acredita em nada de bom e que sente que não merece o melhor que a vida tem para oferecer. Não quero deixar de viver, por ter medo de viver. Não quero perder, por ter medo de perder. 

Vais pela vida procurando adquirir experiência, tentando não tropeçar em nenhuma pedra que te magoe; convencido de que a sabedoria da idade adulta te protegerá dos erros. E, de súbito, aparece, do nada, um sonho.
Angela Becerra

1 comentário:

luis disse...

"Tenho dificuldade em compreender se isto é que é ser adulta, ou se é pura cobardia."

Ser adulta não é de certeza. Dizem-nos, quando sofremos um desgosto, que perdemos a ilusão. É mentira. Isso é o mundo de muita gente, sem ilusão, ou desiludido, mas não é uma característica do ser adulto.

Cobardia também não é, com certeza. É apenas um processo natural (o teu) e quando deixares de pensar se é o correcto ou não, se é o melhor ou não, vais sentir-te, outra vez, como sempre te sentiste contigo própria.

Temos tendência para nos tornarmos em algo que não somos porque questionamos o falhanço e sentimos que andámos sempre num caminho errado. Mas um dia voltas à tua mais pura essência e tudo o que te atormenta deixa de existir, outra vez.