4 de fevereiro de 2011

Lado Lunar

(Para a M.)     

     Ou, no meu caso, um grande mau feitio. O meu lado lunar é esse. E toda a vida ouvi queixarem-se dele. Toda a vida foi mencionado, e não como característica; como defeito. E agora que caminho já para os vinte e oito, que me vejo e me aceito como sou, agora percebo que o meu lado lunar é das melhores coisinhas que para aqui andam.
     Lamento se não concordo com a população geral que compõe a minha família e amigos. Lamento se acham que deveria fazer um esforço para que ele aqui não estivesse. Porque quanto mais vivo, quanto mais aprendo, mais me apercebo que o meu mau feitio é das coisas que gosto mais. E este tempo todo da minha vida adulta em que fiz um esforço (sobre)humano para o amansar, para o polir, para o eliminar, foi dos maiores erros da dita vida. Porque enquanto eu trabalhava esse meu lado, enquanto eu parava e pensava “tem calma, não reajas, não deixes o mau feitio reagir por ti”, aí, nesses momentos, foi quando eu deixei que me passassem por cima. Foi nesses momentos em que, por pudor e receio, me contive. E não disse o que pensava. E não travei a tempo quem, por justa medida, deveria ser travado.
     Pior; ao travar a minha energia, ao lutar contra a minha natureza, parei e assisti impávida a diversos impropérios dignos de um dos melhores ataques que o mau feitio proporciona. E porque fui contra ela, engoli o meu orgulho e travei batalhas silenciosas em mim durante semanas, que em cinco minutos teriam ficado resolvidas. E travar batalhas internas dessa espécie é coisa que não traz bem a ninguém.
     E neste mundinho difícil, onde muitos não olham a meios para atingir os fins e não parecem importar-se com o próximo, parece-me que essa etiqueta colada a mim é o menor dos meus problemas, se graças a ela evitar o mau-estar que me causam determinadas situações. Por isso, para certas alturas, adoro o meu mau feitio. E para as outras também.
     Venho assim por este meio dizer à minha população que desculpe qualquer coisinha nos próximos tempos. Andei muitos anos a limar o lado errado; agora vou ter que deixá-lo à solta a rugir. É só o tempo de aprender a domá-lo da forma certa; muito diferente do que tenho feito até agora. Deixem que me salte a tampa. Dificilmente será contra quem me ama.


1 comentário:

L. disse...

Nem mais! Subscrevo!