15 de novembro de 2007

Moleskine

a.k.a. o melhor amigo do pseudo intelectual


Não sei se ando mais atenta ou se, de facto, presenciamos um moleskine boom. Juro que onde quer que eu vá, para onde quer que eu olhe, pimba, lá esta ele a saltar de um bolso de casaco ou de uma pochete.
E isso irrita-me.

Vamos por partes. Eu sou slightly fashion victim. Slightly! Tenho um ponto de equilíbrio, que é mais ou menos o limite da conta bancária. Por isso tenho que me dividir entre umas Fly London e uma t-shirt da Bershka. O que me dá uma certa graça, diga-se. Por isso compreendo lindamente e aceito muito bem qualquer pessoa que compra não só o objecto, como a marca. Digam o que disserem, faz parte e todos nós fazemos isso. E não me venham com tangas porque se há pessoas para quem uma Donna Karan é crucial, há outras que não vivem sem umas Levi's coladas ao rabo, como há pessoas para quem uma mala vintage é quase uma questão de vida ou morte.
People things are people things.

Mas o moleskine não é bem assim. É caro, por isso é um caderno de marca. É a Levi's dos cadernos. Tem a graça do preto (o preto tem muita graça, e além disso, com o preto nunca me comprometo), e a graça das escalas (é o do ré mi fá sol em centímetros). Tem a versão pocket que é perfeita por caber em todo o lado mas também é perfeita porque o perdemos (esta foi uma private).

Até aqui, tudo bem. Comprem-no. Usem-no. If that's your thing.
Mas porque é que oitenta por cento das pessoas que o sacam do bolso do casaco ou da pochete, têm um claro ar de pseudo intelectuais? Vê-se que aspiram à coisa da intelectualidade. Querem forçosamente (e desesperadamente) ser confundidos com... há os que dizem assim num tom já ligeiramente esganiçado, sentados na mesa do café, "espera deixa-me apontar no meu moleskine senão esqueço-me", e pimba, saca do dito. Juro, isto tira-me do sério. Não sei porquê, mas tira. Tenho ganas de me virar para o pseudo em questão e dizer "conseguiste. já todos aqui sabemos que tens um recém-adquirido caderninho de marca".

Ora eu sou uma pessoa do contra. E isto está-me a deixar num estado complicado... Porque eu curto destes caderninhos. Mas com esta história do boom dei por mim a ser anti-moleskine. Eu que os adorava. Eu e o moleskine tínhamos uma história. Era o meu diário gráfico nos tempos do liceu (tive uma professora de desenho que gozou com uma colega de turma porque tinha um diário gráfico de capa rosa, de tal forma o moleskine estava instituido como diário gráfico - agora que penso nisso porque raio é que a miúda não podia ter um diário gráfico rosa?). Era o caderninho onde eu escrevia máximas e citações de livros e de filmes. Era a minha agenda.
Agora não é nada porque me irrito cada vez que os vejo. Seja no balcão da papelaria, seja a saltar de uma pochete, seja (e isto é de proporções astronómicas) quando salta do bolso de algum amigo meu! Porque se há coisa que os meus amigos não são, é pseudo intelectuais! Ou são intelectuais (como um ou dois) ou não são intelectuais nem aspiram a tal posto.

Por isto tudo eu peço. Guardem os vossos moleskines longe dos meus olhos. Pela vossa própria segurança. Só até esta coisa me passar....

2 comentários:

--- avião de papel --- disse...

eu não tenho um moleskine a sério, daqueles que tem a marca e custam 3 cadernos bons p semana. mas tenho uns (sim eu preciso d varios caderninhos, cada um para a sua coisa, assim tdo mto arrumado, de forma que possa desarrumar as ideias de cada um deles), q tamb+em tem capa dura e folhas amareladas, ou brancas ou até mesmo com linhas! (é fenomenal!) também sou pseudo-intelectual? Ou apenas tenho uma t-shirt que diz levis comprada na feira? humm não sei, tem folhas sabe bem preenche-las e nao gosto de marcas =p

(diarreia mental)

Então oh coisinha? disse...

LOL

Olha antes de mais ainda me estou a rir do teu texto....
Assino por baixo é mesmo isso(a maioria das vezes é alienação e culpa da massificação)...
Eu por acaso não tenho um moleskine, tenho uma agenda e um bloco "qualquer"(va podem lançar-me um ar de desprezo e ostracizarem-me do colectivo!)
Quanto à tua professora, era patetinha, o grave disto tudo é que os professores desempenham papeis mt importantes na escolha das nossas carreiras futuras e essa malta que deve dar o exemplo e suscitar interesse pelos assuntos não devia estar numa sala de aula...
O teu próximo post é "tornei-me numa serial killer de moleskines...." ;D

Beijinhos!

ps:oh kabuki, és fatela!não tens um moleskine!:D