Passamos pela vida em permanente estado e em consecutiva repetição de uma frase que me deixa sem sentido…
“Faço isto pelo meu futuro."
Esta e outras variantes têm sido o meu discurso, não digo nos meus últimos 26 anos, porque nascemos com a bênção da ignorância, mas vá… nos últimos 15. E olho à minha volta e vejo o mesmo; as minhas pessoas e as pessoas alheias em conformação permanente de que vivem o presente a preparar o futuro.
O que é, então, feito do meu presente? E não é irónico que a própria palavra PRESENTE, que significa dádiva, seja completamente o oposto daquilo que sentimos com o nosso?
Páginas tantas andamos mesmo pela vida a não usufruir desta dádiva que é o Presente de todos os dias, a pensar num futuro que não conhecemos? A planeá-lo sabendo a priori que nunca vai ser como sonhamos? Como gostaríamos?
Qual é a lógica então, de sair de casa todas as manhãs, e não parar e sorrir ao nascer do sol…? Não olhar com olhos de ver para a dádiva que isso é, e, em vez disso, fazer dela uma banalidade?
Porque é que chegamos a casa e estamos tão cansados para dar valor ao presente que o presente nos dá? Aos amigos de sempre (um presente do passado), aos que fazemos de novo (um presente do presente), à nossa família (um presente de sempre)…
Porque é que temos que passar pela vida a olhar tanto para a frente com medo de o perder, com medo de não chegar a fazer, com medo de não ter como fazer, e acabamos na verdade por passar uns pelos outros e pelo presente, com uma pressa infinita, uma insatisfação constante, uma leveza e uma indiferença, como se este dia fosse só mais um e houvessem tantos?
E como é que chegámos a um ponto em que já ninguém sabe como parar para sentir?
Hoje li uma frase que me tocou e me levou a este texto. Foi escrita por Michel de Montaigne e dizia que abandonar a vida por um sonho é estimá-la exactamente por quanto ela vale.
Que é feito, então, dos nossos sonhos?
I do not speak the minds of others except to speak my own mind better.
de Montaigne
2 comentários:
Penso que o que o Montaigne quer dizer é que quando se abandona a vida por um sonho, o caminho que se percorre traz a felicidade por si mesmo, porquanto se trata da realização de algo que idealizaste para a tua satisfação pessoal. Claro que às vezes isto não é assim tão simples, sobretudo quando o cansaço nos domina o dia-a-dia... É preciso optimismo :) Força, 1 bj*
"E como é que chegámos a um ponto em que já ninguém sabe como parar para sentir?"
pois é....parece que "não temos tempo"....nunca temos tempo para nada, somos tão ocupados que nunca temos tempo....tempo...temos tanto e não temos nenhum...nem pa ir beber um chá com a avó ou com a tia, que como não fazem parte do nosso quotidiano, esquece-mos por tempo incerto.
Acho que têm toda a razão.
pensamos tanto no NOSSO futuro, e acamos por nos esquecer quem somos...obrigada querida :)
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